terça-feira, 10 de abril de 2012

DA FALA PARA A ESCRITA: ATIVIDADES DE RETEXTUALIZAÇÃO (RESENHA)


MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. – 4.ed – São Paulo: Cortez, 2003.

Luiz Antônio Marcuschi é pesquisador e professor doutor, titular de Lingüística  da Universidade Federal de Pernambuco.

O professor Luiz Antônio Marcuschi busca em seu trabalho desfazer o mito da  supremacia cognitiva da escrita diante da oralidade, além de propor uma normatização do processo de restextualização, que vem ser a transcodificação do texto verbal para a sua versão escrita. A abordagem revela uma fundamentação em disciplinas conhecidas dos estudantes de Letras, como Lingüística e Análise do Discurso com uma releitura direcionada ao estabelecimento de um nexo de igualdade e relevância entre a oralidade e a escrita. Uma preocupação constante do autor em sua obra é descaracterizar a relação dicotômica, fundamentada no modelo estruturalista, voltando-se mais para uma abordagem funcionalista. 
Com esta nova visão ele situa a oralidade e a escrita num lugar de co-importância em que uma ajuda a outra no processo de comunicação. Especialmente nas atividades de retextualização, em que o texto concebido numa concepção discursiva oral é adaptado, através de regras de editoração, para a concepção discursiva escrita que, do ponto de vista ideológico, não pode ser considerado um elemento em oposição.
Em meio a esta discussão é que Marcuschi insere o debate sobre oralidade e letramento, dois conceitos muito confundidos no estudo das formas verbal e escrita em que o código lingüístico pode ser apresentado. Segundo demonstra o autor, esta confusão aumenta quando se discute aprendizado e o uso da língua numa comunidade. Ele faz inclusive a diferença entre o letramento apreendido formalmente na escola e um outro, denominado de “letramento social”, que corresponde ao aprendizado que resulta do convívio do indivíduo. Para deixar isto bem claro ele define:
Letramento é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contextos formais e para usos utilitários, por isto é um conjunto de práticas, ou seja, letramento, como bem disse Street(1995). Distribui-se em graus de domínio que vão de um patamar mínimo a um máximo. A alfabetização pode dar-se como se fato se deu historicamente, à margem da instituição escolar, mas é sempre um aprendizado mediante ensino, e compreende o domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever. 
(...)
A escolarização, por sua vez, é uma prática formal e institucional de ensino que visa a uma formação integral do indivíduo, sendo que a alfabetização é apenas uma das atribuições/atividade da escola. A escola tem projetos educacional amplos, enquanto que a alfabetização é uma habilidade restrita.

A língua falada e a língua escrita têm seu estudo pormenorizado por Marcuschi em função de duas dimensões de tratamento. Primeiro: Oralidade e Letramento; segundo: fala e escrita. Nesta última relação é que está concentrado o maior número de observações e formalidades dentro do processo de retextualização. Como por exemplo, a distinção entre os sinais marcadores e delimitadores das suas formas de expressão. Os aspectos formais, estruturais e semiológicos são os guias orientadores deste estudo.
Além da perceptiva dicotômica, refutada pelo autor, ainda são mostradas outras tendências nesse estudo da oralidade e da escrita, tais como: Tendência fenomenológica de caráter culturalista, ou visão culturalista, à qual apresenta uma oposição entre a cultura oral e a cultura letrada. É o pensamento concreto contra o abstrato, o raciocino prático contra o lógico, e assim por diante; perspectiva variacionista, que estabelece outras distinções de caráter mais amplo, como oposição entre língua padrão e variedade não padrão, língua culta e língua coloquial e norma padrão versus norma não-padrão; refere-se ainda o autor à perspectiva sócio-interacionista que ocupa-se em catalogar aspectos coincidentes entre as duas formas de expressão, dentro de uma visão mais ampla e menos discriminatória. Aborda, ainda, os campos de interseção comunicativa entre o texto falado e o escrito.
No segundo capítulo, o pesquisador discorre com maior profundidade a respeito da retextualização, especialmente das normas de editoração, a partir do seguinte exemplo:
a) texto original falado.
O meu pai não... o meu pai já é uma pessoa... ah... ele... já... é uma pessoa muito fechada... e... triste...
Descontinuidade pós-descontinuidade descontinuidade pós-descontinuidade
(falso início) (hesitação e repetição)
b) texto-alvo editorado
O meu pai já é uma pessoa muito fechada e triste.

A partir deste exemplo, Luiz Marchuschi, explica o processo de retextualização passo-a-passo, ao tempo em que comenta as dificuldades que variam de acordo com a forma do falante expor suas idéias com hesitações e frases entrecortadas, onde muitas das vezes é impossível reconstituir o pensamento por meio da escrita, ficando algo sem transcrição.
Ao comentar um estudo de caso, em que interrogatórios policiais foram analisados à luz da retextualização, comprovou-se um grande número de situações corriqueiras, onde foram reveladas diferenças lingüísticas, estrutura narrativa visível, vagueza e precisão, movimento do tom emocional ao tom neutro, mudança de perspectiva e obscurecimento das intenções das fontes.
Além de elaborar um fluxo dos processos de retextualização, o autor propõe ainda nove operações neste sentido, agrupadas em dois conjuntos, o de regras de regularização e idealização e o de regras de transformação.
O livro foi escrito com dois capítulos dispostos em 125 páginas. Utiliza-se de linguagem culta, exigindo do leitor alguma iniciação nas disciplinas de Lingüística e Análise do Discurso, além de conhecimentos pedagógicos. No segundo capítulo são mostrados gráficos que objetivam facilitar o entendimento de raciocínios abstratos.
Em sua tentativa de quebrar o mito da diferença entre a oralidade e a escrita, o que ele chama de preconceito, Luiz Marcuschi corre o risco de não ser aceito pela maioria dos autores. Até mesmo nos exemplos que apresenta, mostra textos verbais carentes de uma melhor elaboração que para chegarem à excelência tem que passar por muitos recursos. Através das suas regras de editoração cria métodos que moldam o texto falado de forma a facilitar a sua compreensão. Se há necessidade de recorrer a estas ferramentas de edição no sentido de melhorar o texto falado, então como o autor afirma não ser a escrita cognitivamente superior à fala? Isto ele não soube explicar. Os gráficos utilizados também não são os mais explicativos possíveis






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